quarta-feira, 21 de outubro de 2009
I. Às vésperas da libertação: a questão colonial no cinema francês | Programa 1 (79’):
África 50, de René Vautier, é um dos raros testemunhos cinematográficos da violência do sistema colonial francês na África.
Câmera na mão, René Vautier, a pedido da Liga do Ensino, parte, em 1949, para filmar as condições de vida nas aldeias das colônias da África Ocidental Francesa, com o objetivo de criar conteúdos etno-pedagógicos. Revoltado com os desastres humanos causados pela ideologia colonial e a aculturação forçada das etnias locais em resistência, Vautier rompe muito rapidamente com a delegação comandada pelos representantes do governo. Ele é expulso oficialmente da África, mas foge e filma clandestinamente os vestígios da repressão na Costa do Marfim. De volta à França, depois de múltiplas peripécias, ele monta África 50 com um quarto das películas então capturadas (o restante foi confiscado pelo governo francês). O diretor será condenado a um ano de prisão e o filme será censurado durante mais de quarenta anos, mas será apoiado de maneira semi-clandestina nas redes alternativas. Em 1997, o Ministério das Relações Estrangeiras envia uma carta a René Vautier, especificando que “ uma comissão decretou que era útil para o prestígio da França mostrar, através desse filme, que nos anos 50 existia no nosso país um sentimento anticolonialista pronunciado”.
As estátuas também morrem, Alain Resnais e Chris Marker, 1953, 29’
Junto com África 50, As estátuas também morrem, de Alain Resnais e Chris Marker, é a pedra fundamental de uma vanguarda anticolonialista do cinema francês. Através da arte africana, mais especificamente das estátuas e das máscaras, Resnais e Marker filmam uma virulenta diatribe contra os insuspeitáveis crimes do colonialismo sobre as criações africanas: a especificidade da cultura panteísta e mágica é substituída, pouco a pouco, por uma atividade artística comercial mercantil e de série. As estátuas também morrem foi proíbido pela censura de 1953 a 1963.
“(…) eles sabiam tudo que se passava na África e nós fomos mesmo muito delicados em não ter evocado as aldeias queimadas, coisas assim; eles estavam totalmente de acordo com o sentido do filme, só que (é aí que a coisa fica interessante) esse tipo de coisa podia ser dita em uma revista ou jornal, mas no cinema, mesmo que os fatos fossem exatos, nós não tínhamos o direito de fazê-lo. A proibição teve consequências muito graves para o produtor. Quanto a nós – seria um acaso ? –, nem Chris Marker nem eu recebemos propostas de trabalho durante três anos”.
(Alain Resnais, sobre sua entrevista com dois dos representantes da comissão de censura)
Mestres loucos, Jean Rouch, 1955, 30’
Rodado em apenas um dia, o filme mostra as práticas ritualísticas do culto Hauka. Baba, tremores, respiração ofegante… são os signos da chegada dos “gênios da força”, personificação emblemática da dominação colonial: o guarda, o governador, o doutor, a mulher do capitão, o general, o condutor de locomotiva, etc. A cerimônia atinge seu ápice com o sacrifício de um cachorro que será comido pelos possuídos. No dia seguinte, os iniciados retornam às suas ocupações cotidianas. Muito controverso, este filme é emblemático do “cine-transe” criado por Jean Rouch. Segundo Ousmane Sembene e Med Hondo, Rouch filma os africanos como insetos.
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